

Têm sido descritas algumas lesões dermatológicas como possíveis manifestações do SARS-Cov-2, o vírus causador da Covid-19. Alguns estudos vêm sendo desenvolvidos para confirmar essa associação diretamente ligada ao vírus. Têm-se observado algumas lesões que podem ser tipo urticárias, exantemas, semelhantes a outras viroses, isquemia, algumas alterações vesiculares, como varicela e até necrose de extremidades.
É o que nos conta a médica dermatologista Dra. Roberta Cesário. “Não se sabe exatamente a relação direta com o vírus, mas percebe-se que várias outras viroses como dengue, chikungunya, zika, sarampo e rubéola cursam com lesões cutâneas. Então a Covid-19, sendo uma virose, pode ocasionar também este problema, sendo que não há um tipo de lesão específica para caracterizar a Covid. Por exemplo, na catapora (varicela), a gente sabe que surgem bolhas d’água. No sarampo e na dengue, a pele fica empolada, manchada e coçando muito. No caso da Covid não existe esse tipo específico de lesão. Pode surgir qualquer tipo, assim como, em alguns casos da doença provocada pelo novo coronavírus, podem não surgir essas lesões. Quando elas aparecem, pode ser em qualquer momento, tanto no início dos outros sintomas, durante o curso da doença e até após a melhora. É bom esclarecer que não necessariamente quem aparece com uma urticária hoje, está com Covid. Deve ser considerada a lesão cutânea associada às outras manifestações sistêmicas que façam suspeitar da doença. Por exemplo, se a pessoa está com a urticária, mas também está com febre, tosse, coriza nasal e dor no corpo, o sinal de alerta para a Covid deve ser ligado. Mas como inicialmente não se sabe se a lesão cutânea faz parte de um quadro da doença ou não, o ideal é que não se entre com nenhuma medicação específica até que se faça o diagnóstico correto. Vai depender de cada caso o tipo de tratamento a ser feito. Outra coisa importante é que, normalmente, no início dos sintomas, as pessoas fazem uso de algum medicamento, seja para febre, dor no corpo ou tosse e depois surgem as lesões. Isso faz com que fique a dúvida se elas são decorrentes do quadro infeccioso ou de algum medicamento que por acaso tenha sido feito o uso. Por isso esse quadro deve ser bem detalhado, com uma anamnese profunda e até alguns exames, para se fechar o diagnóstico correto”.
Dra. Roberta fala ainda sobre como o novo coronavírus pode também trazer problemas capilares. “Nós temos visto com muita frequência no consultório pessoas com queda de cabelo pós-covid. É comum a queda de cabelo após algumas doenças infecciosas, principalmente aquelas que cursam com febre alta. Não só a Covid, mas também pneumonia e amigdalite, por exemplo. Isso normalmente acontece porque há uma inflamação do folículo do pelo, e isso acelera o processo de queda de alguns fios. É o que chamamos de eflúvio telógeno. Isso quer dizer que naquele momento vão cair os fios que já iriam cair mesmo e aqueles que só iriam cair daqui a dois ou três meses. Ou seja, há uma queda precoce dos fios. Isso normalmente ocorre de dois a quatro meses depois da infecção, não é no momento em que a pessoa está com a doença. E essa condição pode se manter por um período de três a seis meses. A intensidade da queda varia muito de acordo com cada pessoa e o couro cabeludo fica mais sensível nesse período. O paciente precisa procurar um dermatologista para ser examinado e avaliado, investigar se há outras condições além do eflúvio telógeno que possa estar potencializando essa queda. Não há um tratamento específico para queda de cabelo pós-covid, é feito o mesmo tratamento de eflúvio telógeno causado por outros motivos. O tratamento é individualizado, e, dependendo da condição clínica de cada paciente, podem ser usados medicamentos tópicos, procedimentos como microagulhamento, infusão de medicamentos nos locais, fototerapia e, nos casos muito intensos, até uso de remédios por via oral. É importante ressaltar que essa queda, na grande maioria, é autolimitada, dura de três a seis meses e vai parar, independente de tratamento ou não. A diferença é que, com o tratamento, a gente consegue reduzir esse tempo de melhora, estimulando para que os fios nasçam com mais rapidez”.