Se você pratica alguma atividade física, ou trabalha muitas horas na mesma posição, já sentiu aquela dorzinha muscular incômoda, não é mesmo? E, provavelmente, lançou mão de algum relaxante muscular para amenizar aquele sofrimento. No entanto, estamos falando de um medicamento que tem seus efeitos colaterais e deve ser usado com cautela para evitar possíveis problemas. Nossa reportagem conversou com o médico neurologista e neurocirurgião Dr. Douglas Romano para falar sobre os riscos do uso indiscriminado deste tipo de remédio. Confira!
Mania de Saúde – Primeiramente, o que são os relaxantes musculares e como eles agem?
Dr. Douglas Romano – A primeira descrição dos relaxantes musculares tem início no século XVI, quando os exploradores europeus, ao encontrar os nativos da Amazônia, verificaram que estes utilizavam as flechas envenenadas, e provocavam a morte por paralisia muscular. O veneno utilizado por eles hoje é conhecido como curare, extraído da planta Strychnos toxifera. A partir desta substância desenvolveram-se os relaxantes musculares que permitiram a realização de cirurgias. Na segunda metade do século XX foram desenvolvidos, a partir dessa substância, os espasmolíticos, como o carispodrol e a ciclobenzaprina (Torsilax e Miosan). O movimento do corpo está condicionado aos neurônios motores, presentes no cérebro, que se estendem e se conectam ao músculo, para realizar o movimento, através da placa neuromuscular. Esses agentes atuam aumentando a inibição ou reduzindo o nível de excitação neste neurônio.
Mania de Saúde – Eles são indicados para que exatamente? Possuem efeitos colaterais?
Dr. Douglas Romano – Esses medicamentos são indicados para quadros de dor aguda, contraturas musculares (como lombalgias, dores nas articulações) e pacientes com espasmos musculares decorrentes de doenças neurológicas, como AVC e esclerose múltipla. As reações adversas mais comuns são: sonolência, tontura e boca seca. Com menos frequência podem ocorrer irritabilidade, dor abdominal, diarreia, visão turva e náuseas.
Mania de Saúde – Qual o perigo do uso contínuo e indiscriminado destes medicamentos?
Dr. Douglas Romano – O uso prolongado dos relaxantes musculares tem como efeito adverso mais importante as alterações neurológicas, tais como confusão mental, alteração na concentração, agitação e até mesmo coma. Não devem ser utilizados em pacientes com glaucoma, ou com problemas cardiovasculares importantes, pois podem provocar taquicardia. Em razão de sua ação neurológica eles potencializarão a ação do álcool.
Mania de Saúde – No caso da dor persistente, o mais correto é sempre procurar o médico, certo?
Dr. Douglas Romano – Sem dúvida. Nos dias atuais, o paciente com livre acesso à internet pode encontrar uma gama de medicamentos possíveis para aliviar a sua dor, e até mesmo um diagnóstico, em geral equivocado. Todavia, essa dor pode ser um sinal de algo mais grave, ou até mesmo, de que não seja necessária uma medicação para controle a longo prazo do problema. O tratamento por meio de terapias de reabilitação (fisioterapia, RPG, Hidroterapia) pode trazer o alívio para o paciente que sofre com quadro doloroso por meio do fortalecimento muscular e aumento da elasticidade das articulações. Assim como procedimentos menos invasivos como bloqueios articulares, musculares e nervosos amenizam o sintoma, evitando o uso prolongado e indiscriminado de medicações e seus muitos efeitos colaterais, pois possuem um efeito local no sítio doloroso.