O diagnóstico de Covid-19 é um susto para qualquer um. Porém, quando se é idoso, o medo aumenta. Mas proporcional a esse medo é a sensação de alívio quando este paciente consegue se recuperar da doença. No entanto, ficam algumas dúvidas sobre como devem ser os dias e meses que se seguem na vida de um paciente com mais de 60 anos após a alta médica. Nossa reportagem ouviu a médica pós-graduada em Geriatria, Dra. Eliza Miranda Costa Caraline, sobre o assunto.
Mania de Saúde – A Covid-19 é uma doença nova, mas sabemos que ela é mais perigosa para os idosos. A recuperação desta faixa etária também é diferente das demais?
Dra. Eliza Caraline – Isso é muito relativo. O paciente idoso é considerado grupo de risco e, na maioria das vezes, este paciente tem várias comorbidades associadas. Dificilmente você vai encontrar um idoso que não tenha pelo menos hipertensão arterial. Temos visto que a obesidade, a diabetes, além das doenças pulmonares são fatores de risco importantes para a complicação da Covid-19. E a recuperação será diferente não só pela idade, mas também pelas comorbidades associadas. Um idoso que é só hipertenso provavelmente vai se recuperar melhor do que outro com uma situação de demência avançada, acamado, com uma doença pulmonar, que tem uma fragilidade envolvida. São vários fatores que entram no prognóstico.
Mania de Saúde – Como a família do idoso pode ajudar neste processo de recuperação?
Dra. Eliza Caraline – A família é superimportante. Quando o paciente não tem uma rede de apoio familiar, tudo se torna mais complexo. Obviamente todos os familiares devem se proteger, usar máscara, álcool em gel, manter o distanciamento, seguir todos os cuidados de saúde e de prevenção que nós da área de saúde temos repetido desde o início da pandemia. A família deve fazer parte dessa recuperação. O idoso que está recebendo atenção e cuidados de um ente querido terá uma recuperação bem mais satisfatória. Porque isso também passa a envolver a saúde mental do paciente.
Mania de Saúde – Com que frequência o idoso recuperado da Covid deve ir ao médico?
Dra. Eliza Caraline – Não existe uma frequência pré-estipulada para a ida desse paciente ao médico. Isso vai variar de acordo com o paciente e com as comorbidades que ele tiver. Cada paciente é um ser individual, e deve ser avaliado pontualmente em cada paciente que tiver alta após a Covid-19, sendo discutido com o seu médico, levando em consideração que doenças além da Covid ele tem, os danos que ela gerou, como ele evoluiu, se houve complicações, etc.
Mania de Saúde – Estamos chegando à marca de quase um ano de pandemia, tempo em que muitos idosos ficaram isolados em casa. É importante também dar atenção à saúde mental dos nossos pais e avós?
Dra. Eliza Caraline – Essa é uma questão extremamente importante, sim. Eu atendi vários idosos durante a pandemia que não apresentavam nada físico, mas eram questões relacionadas à saúde mental. Idosos com transtorno generalizado de ansiedade, com quadros de depressão por estarem afastados da família. Eles sentem muita falta dos netos, principalmente quando estes são crianças. E aí a gente abre para a questão da tecnologia. Até que ponto nós nos afastarmos completamente deste idoso é saudável para ele? É saudável fisicamente, mas não é mentalmente. Observando todos os cuidados, usando máscara, álcool em gel, não aglomerando, pode visitar, obviamente não indo todos os netos no mesmo dia, se alguém tiver algum sintoma não vai chegar perto. Tentar manter o vínculo familiar e usar a tecnologia para isso, hoje vários idosos já conseguem usar os smartphones, fazer chamadas de vídeo. Se ele não souber, faça uma ligação durante a semana para saber como ele está passando, leve uma compra de supermercado, mantenha o distanciamento social, mas não deixe esse idoso completamente sozinho. Esse talvez tenha sido um erro cometido desde o início da pandemia, deixá-los completamente trancados em casa, suscetíveis a esses transtornos mentais por causa do isolamento. É preciso colocar na balança e dar o máximo de atenção a estes entes queridos.