Imunidade: o que você precisa saber

A pandemia do novo coronavírus nos deixou mais atentos com relação à nossa imunidade. E o tema está ainda mais em voga, neste momento em que a vacinação finalmente começou no Brasil. Conversamos com o médico especialista em clínica médica e professor Dr. Cláudio Cola, que falou sobre vacinas e imunidade. Confira.
Mania de Saúde – Quais são os sinais do nosso corpo que sugerem a imunidade baixa?
Dr. Cláudio Cola – De fato, esse ano de 2020 nos direcionou, súbita e involuntariamente, para um outro contexto que alterou completamente a nossa rotina e, consequentemente, nossas prioridades. As nossas preocupações passaram muito rapidamente a serem outras: como se prevenir de forma adequada, como nos adaptarmos ao isolamento social e, sim, como melhorarmos a nossa imunidade, dentre muitas outras. O medo de contrair o coronavírus, potencializado pelas informações a respeito dos casos graves, do número de óbitos e de quais seriam os grupos de risco, aumentaram em muito o nosso estresse e a preocupação com a nossa imunidade. De forma geral, quando a imunidade baixa, nosso organismo dá sinais de que não consegue responder adequadamente até aos menores estímulos, passando a ocorrer infecções por fungos e bactérias que normalmente compõem as floras dérmicas, nasais, vaginais, intestinais e até mesmo por alguns vírus que, em condições normais, estariam totalmente bloqueados. Surgem sintomas como febre frequente e calafrios, ressecamento dos olhos, cansaço, náuseas e vômitos com diarreia por mais de 2 semanas, alterações na pele e nos cabelos, e até mesmo sinais do herpes e a demora em se livrar de uma simples gripe.
Mania de Saúde – Muitas pessoas tentam compensar uma alimentação desequilibrada com suplementos vitamínicos, buscando aumentar a imunidade. Por que isso não é uma boa ideia?
Dr. Cláudio Cola – A simples observação do que significa “suplementação”, que é suprir aquilo que falta, já demonstra o risco que se corre quando se faz uma suplementação vitamínica ou alimentar por iniciativa própria. Se a necessidade é repor aquilo que falta, como escolher um suplemento sem saber o que você precisa repor? E, além disso, será que já existe disponível um suplemento que ofereça o que você precisa repor e nas quantidades certas? Quando se opta pelo uso de produtos já padronizados, e que não consideram a sua individualidade, o perigo é muito grande e o que normalmente ocorre é fazer um investimento caro, sem obter os resultados esperados e causando depósito excessivo de substâncias que não precisavam ser repostas, o que se assemelha a uma intoxicação em alguns casos. É preciso saber que a recuperação e manutenção da nossa imunidade é um processo mais complexo do que simplesmente o uso aleatório de suplementos e que, simplesmente comprar um destes aceitando a sugestões de leigos, normalmente é muito pior que não usar nada, sendo fundamental saber se o produto atende ao estabelecido pela ANVISA através da recente instrução normativa – in nº 76, de 5 de novembro de 2020. O certo é primeiro identificar o seu perfil hormonal, imunológico, metabólico e até mesmo emocional com um profissional especializado, para, a partir daí, estabelecer o seu protocolo individual de suplementação nutricional, e não apenas vitamínico, porque engloba aminoácidos, minerais, proteínas, gorduras e etc.., associando a controle do estresse, que é o elemento que mais facilmente deteriora a nossa imunidade.
Mania de Saúde – Estamos chegando ao momento da tão sonhada vacinação contra a Covid-19 e já sabemos de cor o nome de várias delas: A de Oxford, a da Pfizer, a Coronavac etc. Qual delas é a nossa melhor aposta, na sua opinião?
Dr. Cláudio Cola – O importante é lembrar que a função de uma vacina é, de forma mais rápida e segura, expor a toda a população ao antígeno da doença, promovendo uma resposta imunológica específica e a mais duradoura possível. Até o domínio genético mais apurado alcançado, de forma geral, com a sequenciação do DNA pelo projeto genoma em 2003, a comunidade científica só conhecia e dominava a técnica de atenuar o antígeno em laboratório, tornando incapaz de produzir a doença, mas perpetuando seus elementos estruturais que estimulavam o organismo a produzir os anticorpos, ou seja, você recebe a vacina, não fica doente, mas gera a proteção necessária. Esta técnica foi utilizada no início do século XX, sem internet, sem comunicação instantânea, sem recursos de pesquisas avançados que pudessem englobar vários países e condensar dados de forma imediata, sem o domínio da terapia genética, ou seja, as mais antigas levaram sim alguns anos para serem desenvolvidas e aplicadas, mas devido à estrutura e conhecimento científico da época e não por mais zelo e responsabilidade como alguns hoje tentam fazer parecer. Desta forma surgiram as vacinas virais mais conhecidas, com eficácia conforme a capacidade imunológica do público-alvo e a capacidade de mutação do vírus, por exemplo: a tríplice (sarampo, rubéola e caxumba) tem eficácia em torno de 80%, Poliomielite em torno de 90% e recentemente a H1N1 em torno de 60%, o que é interpretado como alto se considerado que o público alvo são idosos e o vírus é facilmente mutável. Em relação a COVID 19, além desta técnica acima descrita, já foi possível aplicar os conhecimentos genéticos adquiridos e toda a atualíssima estrutura mundial de pesquisa e controle, para desenvolver vacinas que não usam o vírus atenuado e sim cópias de partículas ou fragmentos do material genético deste, produzindo anticorpos em níveis muito mais altos do que o processo de atenuação permitia e fazendo isso de forma segura, rápida e eficaz. Agora você entende melhor porque a Coronavac desenvolvida a partir de vírus atenuados tem eficácia geral em torno de 50,4% e todas as demais, desenvolvidas a partir de terapia genética, alcançam eficácia entre 70% e 90%. Sendo assim, o método de desenvolvimento influencia sim na eficácia mas não na segurança da vacina, ou seja, o que é mais importante em uma pandemia é a disponibilização em larga escala de uma vacina, associada à manutenção das demais medidas de controle epidemiológico como o isolamento social, até que, mais de 70% da população tenha sido vacinada e tenha desenvolvido a sua imunoproteção.

O médico especialista em clínica médica e professor Dr. Cláudio Cola

Mania de Saúde – Temos visto uma crescente onda de resistência à vacinação em todo o mundo. O que diria para as pessoas que estão com medo de se vacinar?
Dr. Cláudio Cola – As vacinas, assim como os antibióticos, a radiologia, e outros, são exemplos emblemáticos e históricos do esforço e do sacrifício diários da comunidade científica para o bem da humanidade e pensar em tudo que se conquistou em qualidade de vida com a descoberta e o constante aperfeiçoamento destes, nos remete para um contexto imensurável, tanto quando se considera o passado, quanto se pensa na perspectiva para o futuro. Assistir essa avalanche de Fake News, fomentadas por irresponsáveis que têm prazer em produzir e disseminar informações infundadas e descontextualizadas, além de ser uma profunda demonstração criminosa de irresponsabilidade e ignorância, configura um ato de desrespeito e ingratidão. Não há nenhum fundamento para imaginar que uma cópia do material genético do vírus injetado na vacina que vai reagir apenas com seus leucócitos e depois ser destruída por eles, possa reagir e modificar o nosso DNA ou “instalar mecanismos de controle” que nos tornarão vigiados pelo resto da vida. Existem relatos, lamentavelmente até mesmo de pessoas da comunidade científica, descrevendo as vacinas baseadas em terapia genética como perigosas porque nunca se usou essa tecnologia antes, o que é óbvio, porque estas derivam do projeto genoma, só se pode considerar essa hipótese disponível nos últimos 15 anos, isto é, trata-se de uma insensatez absurda. Outros atribuem o risco à rapidez no desenvolvimento destas e a comparam ao período de décadas necessários para o desenvolvimento das mais antigas, sem considerar que o contexto científico de quase 100 anos de diferença, o que demonstra no mínimo uma irresponsabilidade inconcebível. A pergunta que fica para esses seria: quando, em bem pouco tempo, tivermos a oportunidade de transplantar órgãos humanos desenvolvidos em laboratório, com técnica também baseada na terapia genética, eliminando assim a fila de transplantes e salvando milhares de vidas, vocês também não usarão porque nunca foi feito antes ou pode alterar o seu código genético permitindo o controle total da sua vida? Enfim, dizem para se ter cuidado com o medo porque ele rouba sonhos, mas hoje podemos completar dizendo: tenha cuidado com o medo produzido por irresponsáveis, porque ele pode roubar não só seus sonhos, mas a sua vida e daqueles que você ama.