
Dar conta de todas as atividades de vida diária é sempre um desafio para a maioria das pessoas. Imagine, então, quando elas sofrem algum problema digestivo que, embora não aparente gravidade, acaba atrapalhando – em muito – a rotina em casa e no trabalho? Pois é. O estresse do mundo contemporâneo e a correria do dia a dia, somados ao aumento da ansiedade, são alguns dos fatores que contribuem para este problema, que acaba sendo muito mais comum do que se imagina.
Para abordar o assunto, o Mania de Saúde ouviu o médico gastroenterologista e endoscopista Dr. Roberto Costa, que explica a incidência desse problema na atualidade. “Existe um grupo de doenças do aparelho digestivo, o qual, apesar de não mostrar lesões e nem alterações nos exames complementares, apresenta sintomas e sinais que causam incômodos, limitando a atividade diária. São chamadas de Doenças Funcionais do Aparelho Digestivo. Estas doenças correspondem ao maior percentual de atendimento médico ambulatorial nos dias de hoje, principalmente na idade produtiva. Tais entidades, embora tenham sintomatologia gastrointestinal, muitas das vezes acentuadas, não apresentam lesões orgânicas estruturais do aparelho digestivo. São alterações de interação cérebro-intestino, como distúrbios motores esôfago-gastrointestinais, hipersensibilidade visceral, alterações da função mucosa e da microbiota (flora intestinal). Estes sintomas podem ser vários, tais como náuseas, vômitos, dores abdominais imprecisas, diarreia, constipação ou dor torácica não cardíaca. Entre as doenças funcionais mais comuns, temos dispepsia funcional (estufamento e desconforto abdominal), constipação intestinal funcional, assim como diarreia e síndrome do intestino irritável. O fenômeno etiopatológico principal é o desequilíbrio da interação cérebro-intestinal, causado por ansiedade, estresse e depressão”, alerta o médico.
Segundo ele, o diagnóstico destas doenças, por vezes, é difícil, pois o paciente não acredita inicialmente que estes sinais e sintomas são gerados por distúrbios funcionais, exigindo assim uma relação médico/paciente consistente. “Utilizamos os Critérios de Roma IV (tabela classificatória), os quais são preenchidos, estabelecendo o diagnóstico de doença funcional, embora sendo importante descartar outras eventuais entidades digestivas orgânicas”, diz Dr. Roberto. “As mulheres continuam a ser mais propensas a desenvolver doenças funcionais, principalmente em decorrência de estresse e da tensão vivida ultimamente pela pandemia de Covid-19 e fatores como monetários, desemprego e impotência diante das adversidades. Neste sentido, uma alimentação balanceada, prática de atividades físicas e momentos de lazer são as principais recomendações”.
Drogas antiespasmódicas (para retirar as cólicas e diminuir a motilidade), laxativos ou constipantes, inibidores do ácido gástrico e probióticos para o equilíbrio da microflora são muito comuns nesse contexto. Dr. Roberto, contudo, ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar, onde psicoterapia pode ser indicada como complementação terapêutica. “O principal objetivo/desafio é o estabelecimento do diagnóstico correto, caracterizando-se a doença funcional, até porque o paciente pode apresentar quadro clínico complexo, também com elementos de outras enfermidades gastrointestinais”.
Por fim, Dr. Roberto responde a uma pergunta que geralmente é feita a respeito desta entidade: Doutor, esta doença tem cura? Segundo ele, a importância da relação médico/paciente é fundamental para controlar essas patologias, já que as mesmas são controláveis, mas não curáveis.
Ele oferece algumas dicas importantes para o dia a dia:
#Escolhas saudáveis geram melhor qualidade de vida, através da mudança de hábito alimentar, atividade física e controle emocional. A alimentação deve ser a mais natural possível. Reduza ao máximo o consumo de produtos industrializados.
#Otimize o seu sono. Uma boa higiene do sono melhora sobremaneira o seu despertar.
#Beba bastante água, em média, 30ml/kg de peso.
#Exercício físico. Escolha aquele que te dá prazer e se ajuste às suas necessidades e possibilidades, através de um profissional competente. Sejam aeróbicos, ou seja, aqueles que melhoram o desempenho cardiovascular.
#Motivação. Ponha foco naquilo que é mais importante em sua Vida: Saúde. Busque este propósito, reprogramando o seu cérebro e mudando a sua vida. Evite boicotar-se e sempre justificar suas impotências e limitações. Deixe de articular palavras como “Difícil/Tentar” e troque-as para “Desafio/Fazer”. Não existe uma fórmula mágica, uma pílula especial, que possa resolver nossos males funcionais. O que existe é a consciência da necessidade de mudar para o melhor possível e criar objetivos que façam da sua vida melhor e fazer valer a sua existência.
Texto produzido em 01/12/2020