O médico Dr. Cláudio Cola nos explica como a resistência à insulina (RI) pode ser responsável pelo quadro de diabetes e o que você pode fazer para emagrecer e manter-se saudável
O dia 14 de novembro é uma data importante para se discutir uma das patologias mais prevalentes na sociedade moderna. Trata-se do Dia Mundial do Diabetes, doença que, segundo a International Diabetes Federation, atinge meio bilhão de adultos no mundo. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 1 em cada 11 pessoas no mundo tem diabetes, sendo que metade da população diabética ignora o problema por falta de exames e acompanhamento médico regular. Além disso, o público em geral vive rodeado de informações desencontradas, que acabam problematizando ainda mais a doença.
É o que conta, ao Mania de Saúde, o médico e professor Dr. Cláudio Cola. “Quando o assunto é diabetes, todos já associam a doença ao excesso de açúcar no sangue, à falta da insulina, à necessidade de uma dieta específica e etc. Tudo isso é correto, mas, com os avanços recentes no conhecimento e domínio do metabolismo, há hoje outros conceitos que precisam ser incorporados a este senso comum”, diz Dr. Cláudio. “Conhecendo de forma mais ampla o assunto, todos têm mais facilidade de entender a importância do controle do diabetes e responder perguntas como: é possível que eu produza insulina e mesmo assim esteja correndo risco de ficar diabético? Eu consigo mudar o meu metabolismo e diminuir o risco de adquirir o diabetes? Questões como essas reforçam a necessidade de difundir tudo o que há de mais novo e atual sobre a relação entre diabetes, açúcar e insulina”, acrescenta o médico.
Ele explica, por exemplo, do que se trata a Resistência à Insulina (RI), que tanto se discute na atualidade. “A RI é um conceito novo, se comparado com o diagnóstico clínico do Diabetes que ocorreu em 1812, e nos ajuda a entender com facilidade como Obesidade Central caracteriza-se pela circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem www.maniadesaude.com.br Banco de Imagens esse mecanismo é mais complexo. Hoje se sabe que há fatores genéticos e ambientais que geram a RI, ou seja, algumas famílias são mais suscetíveis a desenvolverem a RI, mas hábitos alimentares e o sedentarismo também estão diretamente associados a esse processo. De forma simplificada, você sabe que as células B do pâncreas têm um ‘sensor’ que as avisa que há muita glicose no sangue e isso faz com que elas liberem o hormônio Insulina. Então, uma molécula desse hormônio se liga à membrana das células, abre canais específicos, por onde cerca de 5 moléculas de açúcar entram e vão servir de combustível para as células. Com isso, o nível de açúcar no sangue cai, ‘avisa’ as células B do pâncreas e elas param a liberação de insulina. Agora imagine que há uma programação genética para que, com o tempo, fique mais difícil abrir esses canais para o açúcar entrar, e você precise não de uma, mas duas ou três moléculas de insulina para fazer as cinco de açúcar entrarem? Ou que, desenvolvendo a obesidade, o seu número de células gordurosas aumentou muito e muito rápido e que, por isso, essa gordura está ‘inflamada e cheia de citocinas inflamatórias’, fazendo com que as células sejam menos sensíveis à ação da insulina e também vão precisar de mais moléculas para controlar o açúcar? E, ainda, se a sua dieta for rica em carboidratos simples e gorduras saturadas, ou seja, baseada em alimentos industrializados e ‘fast food’, que aumentam muito rápido o nível de açúcar no sangue e promovem uma liberação rápida de insulina, mas que são rapidamente metabolizados, fazem a glicemia cair rapidamente enquanto a insulina se mantém elevada, e isso faz você voltar a sentir fome e voltar a comer errado? Você sempre manterá sua insulina alta e isso também diminuiu a sensibilidade das células. Todos esses contextos criam duas situações muito perigosas: precisar cada vez mais de mais insulina para obter o controle glicêmico e levar o seu pâncreas à falência, ou seja, extinguir a capacidade deste em produzir insulina, instalando o Diabetes. Fica claro com os exemplos acima que, mesmo que exista uma predisposição genética para a RI, são os hábitos alimentares, sedentarismo e a formação do tecido gorduroso ‘inflamado’ os principais vilões para a RI”.
Entendido como se instala a RI, outro conceito interessante a ser abordado, segundo Dr. Cláudio, é a Síndrome Metabólica (SM), descrita na década de 80 por Reaven. “A SM corresponde a um conjunto de doenças cuja base é a resistência insulínica, ou seja, da dificuldade de ação da insulina, decorrem as manifestações que podem fazer parte da síndrome e esta aumenta em muito os riscos de doenças cardiovasculares, atingindo atualmente 25% da população mundial”, aponta o médico, revelando como se diagnostica o problema. “Para firmar esse diagnóstico, é preciso identificar três dos cinco critérios: Obesidade central (circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem); Hipertensão Arterial (pressão arterial sistólica em 130 e/ou pressão arterial diastólica em 85 mmHg, ou mais); Glicemia alterada (glicemia acima de 110 mg/ dl) ou diagnóstico de Diabetes; Triglicerídeos acima de 150 mg/dl; HDL colesterol acima de 40 mg/dl em homens e £50 mg/dl em mulheres. Mas, apesar disso, não é preciso se assustar, já que 1 entre 4 pessoas no mundo, hoje, tem a SM. Na próxima oportunidade, falaremos sobre alguns fatores que podem contribuir para mudar esse quadro, alcançando assim uma melhor qualidade de vida”.