E os cuidados continuam…

É fato que o mundo não será mais o mesmo após a pandemia ocasionada pela Covid-19. As mudanças provocadas no mercado de trabalho, no dia a dia das pessoas e na cultura de muitos países ainda surtirão efeito por muito tempo. A dúvida, entretanto, é se as medidas de higiene reforçadas pela pandemia também permanecerão, tendo em vista que ajudam a prevenir diversos outros problemas, como as viroses. Será que todos vão manter, por toda a vida, o hábito de lavar as mãos com frequência e de usar a máscara em caso de gripe ou resfriado?

São essas perguntas que levaram o Mania de Saúde a procurar o médico infectologista Dr. Nélio Artiles Freitas, que além de especialista nesta área, também se viu na linha de frente no combate à Covid-19. Ele comenta as mudanças que percebeu durante a pandemia e analisa, também, o papel dos profissionais de saúde neste momento. Confira.

Mania de Saúde – Qual sua análise sobre o comportamento do público na pandemia? Acredita que as pessoas se conscientizaram sobre a necessidade da higienização ou pode ser algo apenas momentâneo?

Dr. Nélio Artiles – Espero muito que esse comportamento, essa mudança de etiqueta quanto à higiene, seja um legado dessa pandemia. Obviamente que houve, sim, uma mudança no sentido de as pessoas higienizarem mais as mãos e o próprio distanciamento social foi necessário nesse momento. Mas a etiqueta, por exemplo, no caso de uma tosse, de um espirro, também é muito importante, principalmente para a proteção do outro que apresenta algum risco. É claro que, mesmo controlando a Covid-19, por meio de vacinas, nós ainda teremos outras pandemias, as viroses respiratórias continuam presentes, como, por exemplo, a própria Influenza, da gripe, mas se tem alguém gripado, ou resfriado, deve usar a máscara, evitando transmitir para o outro. Isso, inclusive, é uma cultura de países orientais, que aqui não se segue de maneira geral. Outra medida que me chamou a atenção foi a necessidade de ensinar como lavar as mãos. Isso já deveria estar incluso na educação de cada pessoa e as escolas têm uma importância muito grande nesse processo. A maioria das viroses respiratórias, por exemplo, além de ser transmitida pelo ar, pela respiração, por gotículas, também é pela mão e isso sempre foi menosprezado. Acredito que, a partir de agora, isso mude. Perceba que, este ano, tivemos uma redução muito importante de outras viroses, que são transmitidas da mesma forma, como a própria gripe ou outros resfriados. As doenças que são transmitidas pelas mãos, portanto, passaram a ter menor incidência nesse ano de pandemia.

Mania de Saúde – E quanto aos médicos? Como analisa o papel deles nessa pandemia?

Dr. Nélio Artiles – O desempenho dos profissionais de saúde, de uma forma geral, é digno de nota. Na verdade, nós sempre fomos desafiados e estamos enfrentando uma doença nova. Algumas pessoas, inclusive, me perguntavam se eu não tinha medo de pegar Covid-19 e de atender pacientes infectados, mas respondia que estou há mais de 30 anos trabalhando justamente neste ramo de doenças infecciosas, de doenças contagiosas, onde lido com tuberculose, com meningites, entre muitas outras patologias que possuem essa face do risco. Mas costumo dizer que é como o soldado em uma guerra. Quando você decide que será um bom soldado, você precisa entender que os riscos existem. Então, para ter uma boa qualidade de atendimento, é preciso saber como se prevenir. É isso que a gente sempre fez e continua fazendo. E, quando você olha os profissionais de saúde de uma forma geral, é elogiável o desempenho de cada um deles. Todo mundo foi realmente corajoso e caminhou muito bem. Infelizmente, nesse grande país que nós temos, existe a falta de estrutura em vários locais e isso aumentou bastante a mortalidade. Em locais onde temos uma estrutura melhor, não só de equipe médica, mas também de condições de atendimento, tivemos uma mortalidade menor. Mas fica bastante clara a minha admiração pelos profissionais, bem como minha grande alegria e orgulho de ser médico, por ter colaborado com esse momento, esclarecendo as pessoas e também atuando na linha de frente. E não me refiro apenas aos médicos, mas principalmente enfermeiros, que ficaram muito mais tempo ao lado dos pacientes, assim como os fisioterapeutas, que tanto trabalharam, além de todos os profissionais do suporte, dos hospitais, do transporte, todos tiveram e têm uma importância muito grande nesse combate. Não é só o médico. O médico faz parte de um grande time, que fez diferença, com certeza, pelo seu comprometimento e por sua responsabilidade com a profissão, assim como todos os outros profissionais.