Não foi apenas a rotina escolar das crianças que foi alterada nessa pandemia provocada pelo novo coronavírus. O dia a dia em casa e a relação com a comida também foi afetada em muitos lares brasileiros. Afinal, diversas famílias têm ficado mais com os filhos em casa, especialmente por conta das aulas on-line. Nesse contexto, boa parte delas acabam exagerando nos lanches e nos petiscos, esquecendo-se que podem – e devem – aproveitar o momento para melhorar a alimentação das crianças.
É o que nos conta a nutricionista Ana Luiza Ferraz, especializada em Nutrição Materno Infantil. “Nesse momento de pandemia, muitos pais que não estavam acostumados com uma rotina de alimentação em casa estão se deparando com uma nova realidade. Nessa nova rotina, muitos que não cozinhavam ou tinham refeições à mesa, começaram a ter necessidade de implementar. E acho que isso pode estar sendo desafiador, mas uma ótima oportunidade de resgate. Acho que podemos errar quando lançamos mão do preparo e do tempo em família, para refeições rápidas, industrializadas e consumidas em frente à televisão sem consciência do ato de se alimentar. Então, pode ser um bom momento para desfrutar do preparo dos alimentos com as crianças, pois isso cria autonomia e intimidade com o alimento para elas, desfrutando de refeições à mesa, com conversa e união”.
Esse cuidado, segundo Ana Luiza, deve ser posto em prática e seguido como rotina. “Não é algo engessado e imutável, mas faz parte da maioria dos dias. Primeiro, deve-se olhar para os hábitos dos pais e da família como um todo. Não adianta desejar uma criança com bons hábitos se não há exemplo dentro de casa. É preciso, primeiro, que todos comam os mesmos alimentos. Os alimentos mais naturais possíveis devem ser priorizados, frutas, vegetais, cereais, leguminosas. E devemos evitar alimentos que sejam industrializados, cheios de açúcar, óleo, sódio e aditivos químicos”, ressaltou.
Nesse momento de pandemia, alguns psicólogos têm relatado o aumento da ansiedade em crianças, que acabam comendo mais. O sobrepeso, portanto, acaba sendo um perigo real. A nutricionista explica como combater esse problema em crianças sem a rotina escolar ou de brincadeiras. “É um grande perigo sim, pois hoje não temos mais, como antigamente, hábitos saudáveis como exercício ao ar livre, refeições em famílias e brincadeiras educativas. Hoje em dia temos crianças mais voltadas para a tecnologia, que em excesso pode gerar um pensamento mais acelerado e obesidade, crianças que não sabem lidar com a comida, e comem excessivamente para suprir alguma falta. Talvez de carinho, atenção, afeto. Deve-se combater atualmente com convívio familiar saudável, demonstrações de afeto, conversas no momento de raiva para que essa criança aprenda a lidar com seus sentimentos, menos tempo de tela e mais atividades ao ar livre com todos os cuidados”.
Apesar de ainda não haverem grandes estudos sobre o tema, é consenso entre os especialistas que o período de isolamento social pode elevar o risco de sobrepeso e obesidade nas crianças, conforme alertou o portal Bebê.com.br. Mudanças na rotina e o impacto psicológico do confinamento são apontadas como as principais causas do problema. O portal reforçou que uma das primeiras pesquisas a avaliar o assunto na prática, publicada no periódico Obesity, acompanhou 41 crianças italianas com obesidade durante cerca de um mês e, ao comparar o comportamento do grupo em relação ao mesmo período do ano passado, os cientistas descobriram que elas comiam em média uma refeição a mais por dia e aumentaram “dramaticamente” o consumo de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados, como bolachas, salgadinhos e outros.
Portanto, não é nada indicado usar o tempo dentro de casa como desculpa para comer fora de hora ou estimular a ingestão de guloseimas e petiscos – mas sim aproveitá-lo para transformar, de vez, o hábito alimentar das crianças para melhor, o que causará reflexos positivos para toda a sua vida.

“Primeiro, deve-se olhar para os hábitos dos pais e da família como um todo. Não adianta desejar uma criança com bons hábitos se não há exemplo dentro de casa. É preciso, primeiro, que todos comam os mesmos alimentos. Os alimentos mais naturais possíveis devem ser priorizados, frutas, vegetais, cereais, leguminosas.”
