Você sabe o que faz um fertileuta?

Dr. Francisco Colucci

Já faz algum tempo que a figura do fertileuta entrou em evidência na área da saúde. Mas, ainda assim, muitas pessoas desconhecem o que faz este profissional e por que ele tem ganhado tanto destaque no meio médico. Para abordar o assunto, o Mania de Saúde foi até o Centro de Infertilidade e Medicina Fetal do Norte Fluminense e conversou com o Dr. Francisco Colucci, Médico Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, com mestrado em Medicina Fetal pela UFRJ e Pós-Graduação em Reprodução Humana Assistida, Embriologia e Genética pela Universidade de Valência, na Espanha, além de Pesquisador Associado dessa mesma universidade e da UFRJ, bem como Professor da Faculdade de Medicina de Campos (FMC).
Ele, que coordena o Centro de Infertilidade e Medicina Fetal do Norte Fluminense, explicou a nossa reportagem como é a atuação do fertileuta e como ele tem auxiliado diversos tipos de tratamentos na atualidade, aprimorando a qualidade de vida de inúmeras pessoas.
Mania de Saúde – O que é e o que faz o fertileuta?
Dr. Francisco Colucci – Essa é uma nova nomenclatura para designar o médico que trata eminentemente a infertilidade. A formação base de um fertileuta é a ginecologia. Geralmente, é um ginecologista que se especializou em reprodução humana e atua exclusivamente em reprodução humana assistida ou reprodução humana clínica convencional. Hoje a tendência dessa subespecialidade, bem como da embriologia e também de outras áreas, é tomar o viés da genética, que está incorporando essas e outras especialidades em função do avanço genético presente no mundo de hoje.
Mania de Saúde – A caracterização como fertileuta pode ser vista como um símbolo da importância dessa especialidade em nosso contexto de saúde?
Dr. Francisco Colucci – Sem dúvidas. Na medida em que a reprodução humana vai se desenvolvendo, a especialidade só tende a seguir o mesmo caminho. E, ao ser impulsionada pela genética, ela acaba se voltando não apenas para o tratamento da infertilidade. Ela começa a abrir o leque de atuação. O primeiro é abortamento, depois vai analisando as causas genéticas da ausência da gravidez, problema de implantação de embrião etc. Aí já se comunica com a embriologia, já se comunica com a genética e vai interligando as especialidades. Por isso é uma área do futuro.
Mania de Saúde – Apesar desse avanço, ainda há muitas pessoas que deixam de tratar a infertilidade? Isso se deve ao desconhecimento do assunto?
Dr. Francisco Colucci – Eu não digo nem desconhecimento, porque, de uma forma ou de outra, as pessoas conhecem o problema. Mas existe uma barreira muito grande, que é a barreira cultural. Nós vivemos em uma sociedade latina, onde há um conceito machista muito entranhado na sociedade. Muitas vezes ele fica escondido, mas está ali, presente. Isso dá uma sensação de incapacidade para essas pessoas, o que é uma abordagem um pouco danosa. Mas há também a questão econômica, porque, apesar de ter reduzido muito o custo de um tratamento, ele ainda tem um gasto substancial. Outro fator, que não é o nosso problema aqui na região, é a disponibilidade geográfica. Não são muitos os serviços no Brasil que dispõem desse tipo de recurso. E, dos serviços existentes no Brasil, muitíssimos poucos têm disponibilidade de recurso de oferecimento disso pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É diferente do nosso caso. Hoje o programa está paralisado (devido à pandemia da Covid-19), mas somos um dos municípios que oferecem essa abordagem e aqui no estado do Rio de Janeiro é o único até o momento que tem esse tipo de programa.
Mania de Saúde – Por falar em pandemia, qual a perspectiva quanto ao Centro de Infertilidade?
Dr. Francisco Colucci – Desde março, nós estamos com a normativa no Brasil para que não aconteçam os tratamentos, salvo em duas condições que a Anvisa trata como emergência: casos de câncer ou de mulheres que têm baixa reserva de óvulos, onde o tempo de espera entre a passagem da pandemia e o início do tratamento pode comprometer o futuro reprodutivo dela. Isso reduziu o número de tratamentos no Brasil a praticamente zero. Estamos enfrentando essa situação na esperança de que ela passe o mais rápido possível. Mas, em paralelo, já estamos nos preparando para a retomada, fazendo o Núcleo de Segurança do Paciente, junto com a Anvisa, criando protocolo para essas pacientes poderem reingressar no tratamento, com toda a segurança necessária, conforme determinações da própria agência. Seguindo sempre o mesmo objetivo: oferecer o melhor atendimento possível ao nosso público.

Texto produzido em: 17/06/2020