Foto: Suelen Barbosa/Amigos do Pedal
O distanciamento social gerado pela Covid-19 trouxe uma série de preocupações às pessoas. Uma delas diz respeito à atividade física. Como manter a rotina de exercícios em espaços públicos e, sobretudo, junto com os amigos? Foi essa questão que passou pela cabeça de muitos ciclistas no interior fluminense durante a quarentena. Mas, aos poucos, boa parte deles foi achando a resposta.
Em Italva e Itaperuna, por exemplo, integrantes de grupos de ciclismo têm mantido a rotina de pedalar em dupla ou em grupo, tomando as precauções necessárias. Com o tempo, a atividade ganhou um diferencial a mais: o combate à ansiedade em meio à pandemia. É o que conta, ao Mania de Saúde, o ciclista Rodrigo Muniz Machado, que pedala há cerca de três anos.
“No começo, todos nós ficamos assustados com a Covid-19, a exemplo da população em geral. Não sabíamos como o cenário ia se desenhar e como ficaria a rotina do pedal. Mas, aos poucos, fomos vendo a importância de seguir com a prática, tomando os cuidados exigidos pelas autoridades em seus decretos municipais. Na medida em que todos passaram a ir sempre de máscara, levando álcool gel e mantendo o distanciamento possível, começamos a sentir como isso estava ajudando todos nós a enfrentar melhor a pandemia, porque os benefícios do ciclismo vão além do físico. Ele também é, muitas vezes, mental”, disse.
Mas não é apenas na região que o assunto veio à tona durante a quarentena. Isso porque, desde o início da pandemia, a União dos Ciclistas do Brasil tem elaborado documentos e incentivado campanhas não apenas para ressaltar a prática saudável do ciclismo, como, também, a maneira como ele pode ser reforçado por meio de políticas públicas em um cenário pós-Covid-19. A ideia, inclusive, segue uma tendência mundial, já que, na Europa, o uso das bicicletas já tem sido discutido como forma de evitar aglomerações em carros e nos transportes públicos. Tanto que, em abril, na França, foi criado um fundo de 20 mil euros com essa finalidade, enquanto que, no Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson também defendeu o uso de bicicletas para diminuir a circulação automotiva.
Segundo a UCB, no Brasil, a bicicleta tem sido utilizada tanto pelo cidadão comum durante a pandemia, quanto como veículo de logística para entregas de diversos tipos de produtos. “É uma maneira de manter o distanciamento e evitar o possível contato com superfícies contaminadas no transporte coletivo”, informou a entidade em seu portal na internet, onde listou uma série de recomendações de segurança e higiene para cada uma dessas modalidades – incluindo aí a prática da bicicleta como meio esportivo.
“Isso é importante não apenas para manter a segurança de todos, mas, até mesmo, para evitar com que a prática sofra algum tipo de sanção”, diz Rodrigo. Ele menciona como o papel individual do ciclista também faz a diferença. “É claro que, em muitos casos, devido ao esforço cardiorrespiratório, fica difícil o uso de máscara em determinados trechos, mas, quando isso ocorre, é possível cada um se isolar um pouco mais dos outros e manter o distanciamento necessário. O fato de todos também estarem cumprindo isolamento domiciliar auxilia um pouco mais nessa prevenção. Mas todos têm que fazer a sua parte e, assim, garantir um espaço saudável e democrático aos demais praticantes”.
Além do cuidado de cada um, entretanto, o poder público e entidades privadas também podem auxiliar para que a bicicleta ganhe mais espaço no tecido social brasileiro. Como listou a própria UCB, várias cidades já têm estabelecido novas políticas para uso das bicicletas, a exemplo de Belo Horizonte/MG, que planeja 30 km exclusivos para bicicletas e iniciou testes com marcações em pintura nas vias. Já Curitiba/PR fez a instalação de ciclofaixas temporárias e ampliação de calçadas, enquanto Fortaleza/CE criou um Plano de Mobilidade adaptado à convivência com a Covid-19. No Rio de Janeiro/RJ estão sendo estudadas ciclorrotas experimentais e Vitória/ES criou um grupo de trabalho para discutir circulação na cidade após a pandemia.
A esperança é que exemplos como esse sejam seguidos país afora, expandindo de vez o uso das bicicletas como prática saudável e sustentável para todos nós.
Texto produzido em: 17/06/2020