Vitamina D e sua relação com o câncer

Na edição de maio, do Mania de Saúde, conversamos com o especialista em clínica médica e professor Dr. Cláudio Cola sobre os mitos e verdades da vitamina D. Como prometido, o médico volta ao tema, agora para abordar a sua relação com a incidência do câncer de diversos tipos, um tema que ganha grande complexidade e, consequentemente, controvérsia, quando se sai do universo da medicina clássica ou tradicional, e se prioriza a chamada medicina baseada em evidências. De acordo com Dr. Cláudio, a vitamina D não é necessariamente uma vitamina e sim um pré-hormônio. Ela é sintetizada pela pele e ativada pelos raios ultravioletas B (UVB), naturais (sol) ou artificiais (lâmpadas especiais). “Tendo então a função hormonal, cai na corrente sanguínea e vai atuar em vários órgãos de diferentes formas. Considerando então a sua relação com a incidência de câncer, há então muitas questões interessantes, devidamente comprovadas por estudos científicos confiáveis, que merecem destaque, como a Epigenética. Entende-se por Epigenética a ciência que busca compreender e atuar nas mudanças reversíveis na expressão gênica. Para ficar mais simples, imagine o seu DNA como uma mensagem de WhatsApp e que, nela, você precise destacar pontos importantes para chamar a atenção de quem vai ler, usando emojis, negrito, itálico e etc. Então, os mecanismos epigenéticos destacam sequências de DNA a serem lidas em momentos diferentes e por diferentes células. Não é interessante? E o que mais chama atenção é que hoje isso pode ser modificado, ou seja, já trabalhamos há algum tempo com a modulação da epigenética através de elementos nutricionais e fórmulas específicas”. E onde a vit D entra nessa história? O médico responde. “Está comprovado que ela é capaz de influenciar a expressão de 291 genes diferentes, quer aumentando ou reduzindo a atuação destes, e promovendo melhor reparo do DNA, maior replicação do DNA, melhor regulação imunológica, regulação transcricional efetiva e outras funções biológicas como melhorar a expressão do RNA Y e CETN3 que estão envolvidos no reparo do DNA em resposta à exposição UVR. Ou seja, uma das funções clássicas da vit D é melhorar a resposta metabólica ao câncer devido ao seu efeito epigenético comprovado que, através de uma natural modulação de expressão genética ampla, permite uma melhor resposta celular ao estresse neoplásico”. Dr. Cláudio prossegue explicando a relação da vitamina D com o câncer de pele. “É natural que surja esse questionamento quando se aborda esse tema, afinal de contas, se a vit D previne o câncer, se é preciso se expor ao sol para ativar a vit D, se a exposição ao sol aumenta o risco de câncer de pele, o que eu faço então? Não seria isso uma incoerência absurda? Vamos então observar alguns pontos fundamentais e comprová-los com evidências científicas. Anteriormente destacamos que uma das funções epigenéticas da vit D é melhorar a expressão do RNA Y e CETN3 que estão envolvidos no reparo do DNA em resposta à exposição UVR, ou seja, você já pode ir se tranquilizando porque, ao se expor ao sol no horário correto, quando a maior parte dos raios que ultrapassam a camada de ozônio são os UVB que ativam a sua vit D, ela mesma já está se encarregando de protegê-lo do câncer de pele, porque, como dito, aumenta a ação do RNA Y e do CETN3 que irão ‘reparar ou isolar’ o DNA da sua célula da pele, impedindo que se instale o câncer. É possível confirmar isso, sobretudo no nosso país tropical e de dimensões continentais: quando analisamos na literatura os gráficos de taxa de mortalidade por câncer no Brasil, observamos que quanto mais um estado está distante da linha do equador, maior a sua incidência de câncer, ou seja, em locais onde é mais fácil, mais comum à exposição ao sol, há menos mortalidade pelo câncer e só a atuação epigenética da vit D pode explicar isso. Então está claro que a vit D é eficaz na prevenção e proteção ao câncer, inclusive em relação ao de pele, mas este é, sem dúvida, um assunto interessante, complexo e com muitas questões que podem gerar controvérsias, como uma outra que você pode estar pensando agora: e os protetores solares? Será que ao diminuírem a ativação da vit D eles seriam mais nocivos que úteis? Não é tão simples assim a resposta, mas esta fica para outra matéria, ok?”. Texto produzido em: 15/06/2020