O paradoxal Vinícius de Moraes

“O homem mata tudo o que ele ama”. – Oscar Wilde.

Pouca gente sabe que o incréu poeta e cronista Vinicius de Moraes, em sua mocidade era cristão fortemente ligado à renovação católica da década de trinta do século dezenove. Com o perigoso processo de sexualização da cultura ocidental denunciado por Pitirim Sorokin, nos Estados Unidos, Vinicius se desloca para um sensualismo erótico e para um ateísmo, que se vê nitidamente quando elogiou o seu amigo Otto Lara Resende. A sua incredulidade está bem clara quando exclamou, na crônica “História Triste”: “Bom Otto. Se houvesse o céu, ele já estava com o seu lugar garantido”. Sendo bom esclarecer que o elogio decorreu de Otto Lara Rezende, ao saborear um picolé na rua, ter ficado tão penalizado com uma menininha paupérrima, que a fez se deleitar também com a iguaria doce feita de suco de frutas.

O elogio de Vinicius a Otto mostra que ele jamais esteve alheio aos atos de www.maniadesaude.com.br bondade, dele não escapando até os corriqueiros. O que me leva a acreditar, que o grande enamorado da beleza, não perdeu totalmente o Belo de sua alma, tanto assim que inspirado por Deus, mesmo dele querendo se distanciar, deixou escapar, em sua crônica “Dia de Sábado”, este lance poético de amor cristão: “Por que hoje é Sábado, comprei um violão para minha filha Suzana, a fim de que ela aprenda dó maior e cante um dia, ao pé do leito de morte do seu pai, a valsa “Lágrimas de Dor” de Pixinguinha – e seu pai possa assim cerrar para sempre os olhos entre prantos e galgar a eternidade ajudado pela mão negra do grande valsista”…

Para quem sabe ler, Vinicius levou para a sua filha, ainda que sem querer, a ideia luminosa de uma eternidade que perpetua o Bem. E não a mentira demoníaca de uma eternidade vazia, de uma eternidade do nada, que seria, no entendimento dos incrédulos, o inevitável fim dos seres humanos. Mas, sim, a eternidade que dá sentido à vida humana. A eternidade com Deus. Quem sabe, se Vinicius num lampejo não vislumbrou o nosso Criador e Salvador? Tudo como se fosse um recado aos irascíveis maniqueístas alertando-os de que o Bem é Absoluto e que o mal é relativo e extremamente burro. Daí o dever cristão de buscar e proclamar o lado bom de todos os seres humanos. Deparando, por exemplo, com a ternura que o grande poeta Vinicius de Moraes devotava à sua genitora, sentir e divulgar amorosamente outro indício de que ele, embora altamente mulherengo, era às vezes também sujeito às faíscas, às fagulhas do singelo amor cristão a nos levarem aos fundamentais, aos essenciais valores familiares para se chegar à autêntica felicidade.

Tanto assim que, na crônica “Dia de Sábado”, não se restringiu à filha Suzana, voltando-se, também, para sua Mãe, ao escrever “Por que hoje é Sábado, desejarei ouvir cantar minha Mãe em velhas canções perdidas, quando a tarde deixava um alto silêncio na casa vazia de tudo que não fosse a sua voz infantil”… Inegavelmente, Vinicius se referia a aquele doce murmurar amorável, que não nos deixa matar o que de fato amamos. E que nos leva a refutar Oscar Wilde dizendo peremptoriamente, decisivamente, que só deixamos de amar algo que, na verdade, não amamos. E como o nosso Bom Deus ama todos os seres humanos, Ele jamais nos deixará de amar. E nós, na Plenitude do Bem Absoluto, O amaremos naturalmente acima de tudo e de todos.